Quase síndrome do Peter Pan e os meus 2/3 do EM em casa

Aviso importante: eu me recuso a citar a Pandemia dentro do meu texto. Cito aqui para fornecer contexto. Se você esteve no planeta Terra no último ano, você sabe exatamente do que se trata. Por isso, quando eu me referir a quem “tirou” o meu (e de tantos outros) tão esperado terceiro ano, fique claro que foi essa grande maravilha da pandemia. (contém um alto nível de ironia)

Quase síndrome do Peter Pan e os meus 2/3  do EM em casa

Confesso que escrever sobre esse tema, estando finalmente no famoso terceirão, gera um certo sentimento de nostalgia dentro de mim. Imagino eu, que estar no último ano da escola nunca foi nada fácil. Vestibular. ENEM. Vida adulta e faculdade. Todos batendo à porta. Como se não bastasse, é sua chance de dar um adeus. Adeus às aulas todas as manhãs, adeus aos amigos com quem convivemos diariamente, adeus ao lanche da cantina e aos professores e orientadores. Claro, para alguém que odeia a escola, o último ano soa quase como um alívio. Mas para aqueles que amam o espaço e os amigos, o terceirão é a chance que temos de um adeus digno. 

Eu, que sempre considerei a escola como meu segundo lar (algo tipo Hogwarts), não esperava que meu último ano de aulas terminasse assim: em casa. Me imaginava vivendo mil e uma aventuras. Indo para Brasília, fazendo trotes, indo a festas (ok, não me imaginava em tantas festas), sendo oradora da turma e aproveitando a festa de formatura. Nunca imaginaria a quantidade de coisas que eu perderia. Sem última festa junina, sem último trote, sem os amigos, sem último estudo do meio e sem a tão esperada viagem de formatura. Anos e anos indo à escola, fazendo provas, tarefas e estudando sem parar, para se formar pelo Google Meet ou Zoom. Realmente algo incrível. Incrivelmente decepcionante. Talvez a pior parte foi a esperança que eu e os meus colegas do terceiro alimentamos. Quando toda essa bagunça começou, estávamos no começo do nosso segundo ano. Diziam-nos “Calma… vocês só perderão o 2°ano. Calma, que quando vocês estiverem no 3° tudo volta ao normal.” Ah, tá. E trouxas como somos, claro que fomos acreditar. Sem comentários. A não ser talvez: “que frustração, vocês estavam errados”. Agora, ainda no meio desse caos, já estamos no meio (pasmem) do nosso terceiro ano. Um único comentário: “Que decepção!”.

Há quem diga que a situação nos deixou mais preparados para a despedida. Há quem diga que, agora, a mudança não será tão brusca, afinal, quanto tempo já passamos longe dos amigos e professores? Quanto tempo sem rolês, sem festas e sem confraternizações (isso, claro, se você está ficando em casa)!? Dizem que, agora, a mudança será mínima. Mas eu duvido muito. Fazendo uma analogia besta – mas extremamente coerente e necessária – terminar o terceiro assim será como ler todos os livros de “Harry Potter”, exceto o último capítulo do último livro. Mesmo que você já saiba o final, você nunca terá tido a experiência de ler e viver (na sua imaginação, claro) o último capítulo. Seguindo essa lógica, terminar o ensino médio sem de fato terminá-lo – com a ausência de todas as tradições, marcos e aventuras finais – será como não tê-lo terminado de fato. 

A nostalgia cresce quando me pergunto como seria viver o terceiro ano como nos filmes, livros, séries e tiktoks. Crescemos vendo séries e filmes como “High-School Musical”, “Alexa & Katie”,  “10 coisas que eu odeio em você”, “Para todos os garotos que já amei: agora e para sempre”, “Grease – Nos tempos da Brilhantina” , “Meninas Malvadas”, “Footloose”, “Garota Conhece o Mundo” e tantas outras obras artísticas que sempre repetem a mesma coisa:  você terá um ótimo último ano, e depois disso, se prepare para as mudanças. Por isso coloque altas expectativas apenas no seu último ano. Dizem que muita coisa muda, e deve mudar mesmo. Nossa geração cresceu ouvindo e vendo sobre isso. Até que, finalmente, depois de muito tempo de espera, chegou a nossa vez. E não estamos prontos. Eu não estou pronta. 

Garanto que é muito mais assustador agora que está aqui. Me pergunto se eu estaria pronta se tudo fosse acontecer como sempre aconteceu (antes dessa crise global). A minha hipótese é que a minha resposta seria a mesma: não. Não estaria. Percebo que se formar, encarar a vida adulta e dar essa última despedida aos amigos e da escola é algo para que todos nós, formandos, ainda não estamos prontos. É um tema que buscamos evitar. A verdade é que vivemos em estado de negação. Não queremos que nosso último ano seja assim. Não queremos que nosso último ano chegue ao fim. 

Se eu pudesse resumir, em uma única frase, diria que estamos lidando com uma quase síndrome que todos um dia terão, ou já tiveram de lidar: a quase síndrome do Peter Pan. Não, não me refiro à síndrome do Peter Pan abordada pela psicologia: esta aborda sobre sujeitos com comportamentos infantis e inseguros que os impedem de amadurecer normalmente, sendo um transtorno mental. Me refiro, aqui, à quase síndrome do Peter Pan, ou seja, nosso medo natural, em dizer adeus para a nossa infância. Não queremos que acabe assim. Em casa. Sem festas, bagunça e comemoração. Agora, a ideia de passar um tempo na Terra do Nunca e voltar para se formar quando tudo voltar ao normal não parece uma ideia tão ruim assim. 

A conclusão – se é que eu posso chegar em uma, afinal, esse texto é mais um grande desabafo do que um texto que precisa de uma conclusão – é que eu esperava mais desse ano. Guardei muitas expectativas que resultaram em uma grande frustração. Estou triste? Estou. Estou animada, assustada, ansiosa e preocupada com o que está por vir? Muito. Por isso, para você que ainda está no meio do caminho, e não tão perto da linha de chegada, deixo um grande conselho: aproveite todos os anos, meses e dias que você tem na vida, com os amigos, colegas e na escola… você nunca sabe quando um caos mundial vai decidir se instalar no planeta, bem quando você planejava aproveitar seu ensino médio e terceiro ano. Quem sabe? Da próxima vez podem até ser os aliens ou o apocalipse zumbi!  Então aproveite agora – quando essa maluquice acabar, claro.

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