BRISAS: ANIVERSÁRIOS
Eu sempre fui uma pessoa que presta muita atenção nas coisinhas pequenas da vida e, por isso mesmo, não é raro que eu coloque um significado enorme naquelas que pessoas deixam passar num piscar de olhos. Essa é a minha questão com os aniversários. Eu os amo. Como se eu fosse uma criancinha que passa o ano esperando por presentes e doces; mas o que eu espero é a data mesmo — um dia só meu. Agora, por que a minha relação de amor com aniversários é relevante aqui? Com a criação do Comtexto, eu tive que revirar meu Google Drive em busca de “coisas-escritas-por-mim-e-ainda-não-vistas-pelo-mundo”. Nesse processo, encontrei uma dessas, exatamente sobre os tais aniversários. E esse achado calhou de surgir logo depois que alguém me disse que eu mudei a sua visão sobre esses dias. Por isso, vim compartilhar isso aqui. Espero poder passar um pouquinho desse meu amor pra vocês.
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Um dia desses, defendendo o ponto de que se deve comemorar mesmo as menores das conquistas, alguém argumentou que “a gente comemora até o fato de ter conseguido se manter vivo por 365 dias.” E isso ficou pairando sobre a minha cabeça. O meu aniversário – ou o de qualquer um, na verdade, – sempre foi muito importante para mim; já que eu sempre o enxerguei como o “meu” dia, como um novo começo, como uma desculpa para ter um dia incrível. Por isso, foi absurda a minha decepção quando, conforme eu crescia, via as pessoas desmistificarem essa data. Todos a minha volta começaram a perceber que um aniversário nada mais era que “outro dia”, ou, ainda, para os mais pessimistas e existencialistas: “um dia a menos que eu ainda tenho para viver.” E assim, essa magia acabou se esvaindo, dando lugar a um dolorido realismo.
Quase como se tivessem medo, as pessoas fogem dessa magia que um aniversário traz, talvez na esperança de que, esquivando das comemorações da data, elas escaparão, também, da passagem do tempo que ela marca. Aqueles que têm medo de contemplar o passar de suas vidas despejam isso nesse dia tão especial e esperam que, ao evitá-lo, elas evitem também essa autorreflexão que vem sempre no começo de algo novo. No entanto, não se pode fugir do tempo. Tudo continua a passar, mesmo que alguém não acompanhe. Essa tentativa falha de lutar contra isso só leva à completa perda de um dia tão especial.
E, simplesmente assim, as crianças que passavam dias ansiando por uma festa em sua homenagem, num buffet decorado e com brigadeiros, acabam se tornando pessoas indiferentes à data. Quem nunca ouviu um adulto comentar que sente falta da leveza e da magia da infância? Pois, bem! Se tem uma coisa da infância que não vai embora com a idade é a data do seu nascimento e, ainda assim, conseguimos acabar com a magia infantil disso também. Ou seja, nós arruinamos os aniversários.
E, agora, o mínimo que podemos fazer é salvá-los.
Por isso, no seu próximo aniversário, se deixe levar pela magia e pelas expectativas. Saboreie cada “parabéns” e cada expressão de carinho. Aproveite essa desculpa para um dia incrível e um novo começo. Faça aquela festa. Reflita. Devolva à data do seu nascimento, a magia e a consideração que ela merece, porque um aniversário é bem mais que o dia em que você nasceu. É o SEU dia. É o seu começo particular. É a pontinha de infância que nada vai tirar de você. Viva seu aniversário. A gente não comemora o “fato de a gente ter conseguido se manter vivo por 365 dias”, a gente só tira um dia para comemorar todos aqueles outros 364 e comemorar nós mesmos. Já está mais que na hora de acender as velinhas que são a magia do aniversário de novo.