A inevitabilidade da inteligência artificial
Desde a pré-história, o homem produz ferramentas que contribuem com sua sobrevivência e atende às suas necessidades. Cada equipamento criado é um elemento ‘tecnológico’ – tecnologia, aqui, no sentido original, que indica um conjunto de técnicas para produção de objetos, bens ou serviços – o qual possui um objetivo específico e predeterminado. Justamente por ser desenvolvida por e para nós, a tecnologia evoluiu junto à humanidade: de lanças de madeira a satélites e foguetes, as ferramentas seguiram o ritmo da nossa evolução. O desenvolvimento de novos materiais é inevitável. No entanto, a mais nova tecnologia inventada não está sendo encarada como um avanço, mas como um potencial de extinção da vida como a conhecemos.
Em diversas obras de ficção científica, a Inteligência Artificial (IA) é ilustrada como a maior inimiga da humanidade e o motivo da aniquilação da nossa espécie. Desse modo, muitas vezes influenciados por essas obras, acabamos confundindo a realidade com a distopia. Filmes como o “Exterminador do Futuro”, “Blade Runner” e “Vingadores: a Era de Ultron” são alguns dos muitos exemplos em que a inteligência artificial é a vilã da história, com o único objetivo de exterminar a raça humana. Esses filmes, entretanto, esquecem de mostrar que o apocalipse gerado é sempre o resultado de ações humanas; as máquinas são apenas o instrumento usado. Com isso, essas ficções acabam contribuindo com as ilusões criadas pela população sobre os perigos da IA, esquecendo de mostrar seus reais impactos e possível valor.
Mudanças na forma de trabalho, ramificações políticas, jurídicas e sociais, terrorismo facilitado e a vigilância pessoal são alguns exemplos de prováveis impactos desse tipo de tecnologia. A título de exemplo, as habilidades da inteligência artificial, em uma eleição política, podem impactar diretamente no fluxo de informações em redes sociais, levando à interferência nos resultados das votações. Isso poria em risco o espaço livre e equânime de uma democracia. Por outro lado, a IA pode ainda ser utilizada por terroristas, que, dotados de capacidades técnicas, podem desenvolver malwares poderosos, ou mesmo enormes esquemas de ciberterrorismo contra a população comum.
Esses resultados, que podem ser tanto positivos quanto negativos, estão diretamente associados à forma como usamos a IA. De acordo com o Professor Nick Bostrom, da Universidade de Oxford, a maior ameaça é a longo prazo: “Introduzir algo radical que é superinteligente e falhar em alinhá-lo com os valores e intenções humanas. Este é um grande problema técnico.” Ou seja, o maior perigo da Inteligência Artificial não está na ferramenta em si, mas em quem a utiliza, seus propósitos e intenções. Fazendo uma analogia simples: uma faca é uma ferramenta que pode ser usada tanto para cortar um alimento em seu prato, quanto para ferir alguém em um assalto. O instrumento é o mesmo, mas as intenções de quem o usa são distintas Seus impactos, portanto, serão diferentes.. Por isso, da mesma forma que você não teme uma faca, mas sim quem a porta e porque, você não deve temer a inteligência artificial e, sim, aqueles que podem usá-la de maneira ameaçadora, maligna, deletéria… No fim, a IA é apenas um programa, projetado para alcançar um objetivo predeterminado, assim como a faca, um instrumento para cortar.
Em resumo, assim como todas as tecnologias produzidas desde a pré-história, a IA e seus impactos dependem apenas de como nós, homens, vamos desfrutar dela. Sendo assim, a preocupação deve ser voltada para quem aproveita dessas criações e não das ferramentas criadas. Todo esse receio não deve ser voltado à própria Inteligência Artificial, muito menos devemos tentar lutar contra a evolução que novas tecnologias trazem. Isso é lutar contra a própria evolução humana, que, querendo ou não, está diretamente relacionada à evolução da máquina. Novas ferramentas, e, dentre elas, a Inteligência Artificial, são inevitáveis à nossa existência.