Clube da Luta
FRASES
“Esta é a sua vida, e ela está acabando um minuto de cada vez”
Tyler Durden
“Depois de uma luta, o volume do resto da sua vida ficava mais baixo” O Narrador
Narrador
“Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida.”
Tyler Durden
Quem nunca ouviu falar do tal Clube da Luta? Irônico, levando em conta a famosa frase que diz que “a primeira regra do Clube da Luta é que ‘você não fala do Clube da Luta’ e a segunda regra do Clube da Luta é que ‘você NÃO fala do Clube da Luta’”, mas tudo bem. O ponto é que, mesmo se os nomes Tyler Durden, Marla Singer ou Projeto Caos não parecerem familiares, são pequenas as chances de você não saber da existência desse filme. E é por isso que meu trabalho aqui, de escrever sobre isso, é tão difícil: eu nunca vou conseguir explicar Clube da Luta para alguém que não o assistiu, e seria impossível tentar atingir todos os pontinhos importantes para as pessoas que já tiveram essa chance. Apesar de tudo isso, mais difícil ainda seria deixar de falar sobre esse filme e tudo que o faz um clássico. Por isso, eu vim tentar.
Aqui vai um contexto pra todo mundo que conhece pouco além de seu famoso nome. O Clube da Luta gira em torno de um protagonista sem nome — para fins práticos, vamos chamá-lo aqui de Narrador — que vive uma vida miserável em meio à insônia, à solidão e ao seu trabalho insuportável, que exige que ele viaje com certa frequência. Num desses voos à trabalho, o Narrador conhece Tyler Durden, um fabricante e vendedor de sabão e, muito mais que isso, o epítome daquilo que ele queria ser; pensa num cara FODA. Na volta dessa viagem, o Narrador encontra seu apartamento explodido por dinamite caseira, e se vê sem teto. É aí que ele pede abrigo a Tyler, que oferece de bom grado, desde que o amigo lhe de um soco. Ali começa uma amizade quando o apartamento do Narrador é misteriosamente explodido e Tyler lhe oferece um lugar para ficar, com uma condição: que ele lhe desse um soco — de acordo com ele, “como você sabe quem você é se você nunca esteve em uma luta?”Topando a luta, o Narrador muda para a casa destruída e abandonada de Tyler e, conforme eles convivem juntos, essas lutas de rua entre os amigos começam a ficar mais frequentes e angariar certo público. Daí nasce o clube da luta, e o resto é história.
Tomando essa perspectiva, o filme não parece ser exatamente muito profundo; mas entre lutas e amizades se escondem críticas e reflexões sobre o capitalismo, o consumismo, homens babacas, sexualidade, solidão, a morte e até o facismo. Em meio a tantos temas como esses, as impressões variam bastante. Há quem diga que nada disso é tão profundo quanto os fãs de Clube da Luta fazem parecer, mas há quem diga que tudo é profundo demais para que qualquer um desses fãs entenda por completo as reflexões do filme. Mas a história do Narrador não passa sem deixar uma marca. Acontece que o clube começa a se espalhar pelo país e a tomar proporções assustadoras, enquanto o nome Tyler Durden vira uma entidade quase sagrada para esses homens fanáticos, que vivem por essas lutas. O personagem faz graça da vida capitalista, apontando que todo mundo vive sustentado por trabalhos que odeia para comprar coisas de que não precisa. Ele ensina seus seguidores sobre dor e força, e monta um exército que o escuta cegamente. Cada minuto desse processo é repleto de detalhezinhos e sacadas absurdamente espertas.
A principal e mais clara dessas sacadas é exatamente a falta de nome do Narrador. A ideia do recurso é refletir a “normalidade” do cara: ele é só uma pessoa qualquer, irrelevante, geral e conformada. Não chega nem a ser um estereótipo, é só, de todas as maneiras, “a falta de.” Isso tudo ainda é aumentado quando o personagem começa a “separar” seus sentimentos de si. Ele sempre diz “eu sou a sede de vingança do Jack”, “eu sou a vida perdida do Jack”, “eu sou o sangue frio do Jack”, “eu sou o coração partido do Jack”…. Jack aqui é um nome que o Narrador leu em algum lugar, e que na verdade só reforça essa ideia de uma pessoa super comum. No livro que inspirou o filme, inclusive, o nome usado no lugar de Jack era Joe, como na expressão “a regular Joe” que quer dizer, literalmente, “um Joe qualquer”, um zé ninguém.
Todos os significados de lado, Clube da Luta continua sendo uma obra prima e faz por merecer no seu título de “clássico” da Sétima Arte. A direção do David Fincher é impecável, assim como a atuação de Brad Pitt e Edward Norton — esse segundo foi uma grande surpresa pra mim, já que só o tinha visto em “O Incrível Hulk”, que nem consegui terminar. Helena Bonham Carter dá um show como Marla Singer, também, mesmo que sua personagem tenha pouquíssima participação na trama principal do filme. A fotografia é incrivelmente estonteante, no sentido de que completa cada cena com maestria, e a trilha sonora é icônica; eu nunca vou desvincular a última música da cena final.
Falando nesse final, o filme toma um rumo indescritível e fica mais e mais tenso, construindo um crescente desespero e revelações que, diferente de todo o resto, deixam a desejar. Esse é o meu único problema com Clube da Luta, inclusive. Tudo é soletrado demais, até o ponto que, na hora da grande revelação, eu já não fiquei nem um pouco surpresa.
Eu ainda vou ter que assistir esse filme umas noventa vezes antes de poder falar dele com propriedade, o que só fala a favor da produção do conteúdo. Ainda assim, é fácil perceber que Clube da Luta é diferente de qualquer outra coisa, e que todo mundo devia assisti-lo, pelo menos uma vez.