Gradiente (ascensão e queda)
O mais embriagado dos sentimentos
Tontas, suas vítimas viajam, divagam, perdem a dimensão. Sabe-se que a vida real existe, mas, repentinamente, ela já nem importa tanto. Tudo se resolve porque aquilo existe. É todo amorfo. Se sólido, rasga, corroe. Quem disse que vai ser? Assim basta.
Assume todas as cores possíveis. Nasce no lilás da descoberta, cego inconsequente, incerto. É a primeira chama, azulada, a que mais queima. Os caminhos se cruzam, as primeiras histórias se constroem. Qualquer espectro comum é a evidência óbvia de que é para ser. A música do dia, a frase que virou piada… Os detalhes adotados são futuros objetos do maior que possam conceber serem. Primeiro gole, um pé ainda no chão, louco para voar secreto.
Desperta o vermelho do frio na barriga, do primeiro beijo, dos risos escondidos em meio a conversas quaisquer. Faz o relativo ser padrão, eleva-se, a vertigem nem sequer vislumbra virar dismaio — aqui, já não importam mais as regras.
Consolida-se e dourado parece estável, se diz seguro. É o cotidiano enfeitado no que agora é, aparentemente, o normal. Carrega incredulidade agridoce: é para ser assim mesmo? Quem me colocou nessa?
Conta com brisas, ora verdes, ora amareladas, leves fazem a pena rodar pelo céu, conhecer um novo volume, valer. Ela perde altitude, altera a direção, rodopia em círculos imprevistos. É a roda cromática confusa, refém do vento, da força maior, não é mais explicado pela ciência da frequência dos raios de luz. Submete-se à entrega e então gostar não basta — talvez nunca se tenha gostado.
O dourado fura o ciclo e é então o azul marinho, sóbrio, nó na garganta. Desbota na tristeza royal, no vibrante ansioso, no azul bebê. O azul bebê não machuca mais os olhos, não causa o tremor rúbio, não tem a glória dourada. O tom dissolvido se acomoda, sob algum ângulo revela o lilás que já foi enérgico. Reservado, remete ao que já houve de mais lindo. Solidifica-se. Rasga, corroe.